Considero a culinária uma forma superior de arte. Se não a forma superior de arte.
Desde que você seja dotado do talento necessário, tenha curiosidade intelectual e use de imaginação, eis como bem impressionar amigos, desafetos, parentes, vizinhos e, principalmente, a mulher amada.
Sim, eu sei, você é uma pessoa sensata e jamais convidaria vizinhos para o jantar. Estão na frase compondo o que há de sórdido em torno. Não os mencionaria sem que cumprissem estrita função cênica (não olhe agora, mas há um sodomita neocon, justo ao lado, tentando parecer hostil).
Vizinhos justificados, evitarei, no entanto, algo tão vil quanto "desde, é claro, que tudo isso venha temperado por uma porção de investimento erótico", tão caro aos cadernos culturais (sic) da nossa inteligentíssima imprensa. E não me refiro, seguramente, ao "investimento erótico" (note que, nesta sintaxe tortuosa, conduzo o grupo de mansos e simples, dentre os meus incontáveis leitores, do qual - ça va sans dire - você se exclui com garbo).
Sim, é indispensável algum investimento erótico; mover-se em estado de paixão amorosa, sem o que é impossível até mesmo atravessar a rua com dignidade.
O que importa saber é: fuja do estilo vulgar.
Você deve estar pensando (think low, darling, think low): "Mas com talento curiosidade intelectual, imaginação e investimento erótico, pode-se impressionar, a quem quer que seja, com não importa qual idéia".
Nem tanto. Quanto a mim, entre os prazeres da boa mesa e aquele colóquio de jovens católicos (não duvido de que eles estejam tomados por profundo élan) sobre as virtudes da castidade e as iluminações do Santo Padre em visita ao Brasil, não hesitaria em concordar com Millôr Fernandes: “De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência”. Ambrose Bierce, com alguma indulgência, dizia que o abstêmio é “uma pessoa fraca que se deixa cair na tentação de negar a si própria um prazer”.
Voltando à mesa, poucas coisas são comparáveis ao prazer de cozinhar para a mulher amada. Mulheres que gostam de homens e sabem reconhecer os atributos da grande arte, desde os sutis aos mais intensos, respondem com generosa sensualidade àquele investimento erótico.
Ter um jantar elogiado torna qualquer fortuna crítica laudatória uma piedosa aprovação entre amigos.
Se houver posteridade, prefiro ser lembrado por gratos comensais.
Desde que você seja dotado do talento necessário, tenha curiosidade intelectual e use de imaginação, eis como bem impressionar amigos, desafetos, parentes, vizinhos e, principalmente, a mulher amada.
Sim, eu sei, você é uma pessoa sensata e jamais convidaria vizinhos para o jantar. Estão na frase compondo o que há de sórdido em torno. Não os mencionaria sem que cumprissem estrita função cênica (não olhe agora, mas há um sodomita neocon, justo ao lado, tentando parecer hostil).
Vizinhos justificados, evitarei, no entanto, algo tão vil quanto "desde, é claro, que tudo isso venha temperado por uma porção de investimento erótico", tão caro aos cadernos culturais (sic) da nossa inteligentíssima imprensa. E não me refiro, seguramente, ao "investimento erótico" (note que, nesta sintaxe tortuosa, conduzo o grupo de mansos e simples, dentre os meus incontáveis leitores, do qual - ça va sans dire - você se exclui com garbo).
Sim, é indispensável algum investimento erótico; mover-se em estado de paixão amorosa, sem o que é impossível até mesmo atravessar a rua com dignidade.
O que importa saber é: fuja do estilo vulgar.
Você deve estar pensando (think low, darling, think low): "Mas com talento curiosidade intelectual, imaginação e investimento erótico, pode-se impressionar, a quem quer que seja, com não importa qual idéia".
Nem tanto. Quanto a mim, entre os prazeres da boa mesa e aquele colóquio de jovens católicos (não duvido de que eles estejam tomados por profundo élan) sobre as virtudes da castidade e as iluminações do Santo Padre em visita ao Brasil, não hesitaria em concordar com Millôr Fernandes: “De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência”. Ambrose Bierce, com alguma indulgência, dizia que o abstêmio é “uma pessoa fraca que se deixa cair na tentação de negar a si própria um prazer”.
Voltando à mesa, poucas coisas são comparáveis ao prazer de cozinhar para a mulher amada. Mulheres que gostam de homens e sabem reconhecer os atributos da grande arte, desde os sutis aos mais intensos, respondem com generosa sensualidade àquele investimento erótico.
Ter um jantar elogiado torna qualquer fortuna crítica laudatória uma piedosa aprovação entre amigos.
Se houver posteridade, prefiro ser lembrado por gratos comensais.